O Sobrevivente: ação afiada, reflexão contundente
Em O Sobrevivente, o diretor revisita um dos cenários mais recorrentes da ficção distópica — o colapso social dos Estados Unidos em um futuro próximo —, mas o faz com uma energia renovada e uma surpreendente atualidade. Ambientado em 2025, o filme transforma a degradação econômica e moral do país em combustível para uma narrativa que mistura espetáculo televisivo, violência institucionalizada e desespero humano.
Glen Powell, em ascensão incontestável em Hollywood, entrega aqui um dos papéis mais intensos de sua carreira. Como Ben Richards, um pai pressionado pela doença da filha e pela pobreza crescente, Powell equilibra vulnerabilidade e fúria contida. É essa dimensão emocional que impede O Sobrevivente de se tornar apenas mais um filme de ação futurista: há peso real por trás de cada decisão do protagonista.
O ponto central da trama — o game show ultraviolento The Running Man, no qual Richards deve sobreviver 30 dias enquanto é caçado por assassinos profissionais — funciona como uma metáfora nada sutil, porém eficaz, da sociedade do espetáculo. A crítica à manipulação midiática e à crescente normalização da violência é explícita, ainda que não inovadora. O filme acerta, contudo, ao atualizar essa discussão para um contexto de polarização social, pobreza extrema e dependência da população por entretenimento escapista. É desconfortável reconhecer ecos tão próximos da realidade.
Visualmente, a produção aposta em uma estética suja, industrial e opressiva, que reforça o clima de desesperança. As cenas de ação são bem coreografadas e apostam mais na brutalidade física do que em efeitos exagerados, mantendo a narrativa tensa e direta. Ainda assim, alguns dos antagonistas caricatos do programa beiram o cartunesco, o que pode dividir opiniões.
Se há uma fragilidade, ela reside justamente na previsibilidade do roteiro. A estrutura da jornada — fuga, confronto, superação — segue um molde clássico do cinema de perseguição, e quem conhece o gênero dificilmente será surpreendido. No entanto, o filme compensa a falta de originalidade com ritmo sólido e comentários sociais que, mesmo pouco sutis, são pertinentes.
No fim, O Sobrevivente se destaca não pela novidade, mas pela força com que revisita discussões sobre controle estatal, desigualdade e o apetite insaciável da mídia por espetáculo. É um entretenimento tenso e eficiente, que funciona tanto como ação quanto como alerta — e que ressoa ainda mais forte justamente porque seu futuro distópico parece perigosamente próximo.